quarta-feira, 29 de junho de 2011

Luto? Não. Esperança!

Querida companheira de equipe,
Ainda estou com um nó no peito por causa da sua saída - e sei que não sou a única. A briga anda feia, mas "eles" nem merecem comentários, aqui...
Só tenho a agradecer a sua ajuda e apoio incondicionais à causa, ao trabalho e a mim.
Você sempre pertencerá à equipe! Estamos para agendar o novo dia das reuniões clínicas . Quando eu souber, aviso e sinta-se, desde já, convocada para estudar, buscar saídas e lutar conosco, ok? Tem gente nova (e boa!), venha conhecer o grupo. Assim, no seu retorno, você estará bem atualizada! rsrsrsrsrsrs
Não tirarei você das listas, também. Você conquistou este espaço.
Diz pra gente seu novo local de trabalho e telefone. Precisando de QUALQUER coisa do CAPS (menos encaminhamento pro Everaldo... rsrsrsrs... - afinal, ele também já tem seu espaço entre nós), conte comigo, viu?

Beijos com carinho,

Claudia









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“Porque um dia é preciso parar de planejar, retirar os planos da gaveta e, de algum modo começar… “
“Única testemunha do meu horizonte comemorei, sentado, a minha maior conquista: PARTIR. (…)
Partí para minha mais longa travessia e, mesmo que ela só durasse um único dia, eu havia escapado do maior perigo de uma viagem, da forma mais terrível de naufrágio: não partir.”


Amyr Klink, in "Entre Dois Pólos"

Aldeia no circo





Com alguns ingressos gentilmente cedidos pelo Circo, aqui fica registrada a alegria da tarde de sábado, dia 18/06/2011.
Agradecemos à Ana Claudia, que batalhou pelos ingressos, à Ana Clara, que cedeu as fotos,aos companheiros que compartilharam a experiência e aos donos do espetáculo, pela oportunidade do passeio!

sábado, 18 de junho de 2011

enquanto o almoço não sai, MATURANA, UMA UTOPIA POSSÍVEL!

O almoço em ritmo de "espera-descongelar-pra-ver-no-que-vai-dar. O que fazer?
Daí que lembrei de um texto sobre o Humberto Maturana, que queria colocar aqui no blog. A Viviane comentou, na especialização, sobre autopoiese e ele é o bam-bam-bam da "coisa".
Aí vai:

MATURANA, UMA UTOPIA POSSÍVEL!
Juares Soares Costa(*)

No início dos anos 70, eu era um estudante do curso de Medicina e tive contato com o livro de Arthur Koestler, “O fantasma na máquina”. A partir da teoria da evolução e baseando-se, entre outras fontes, em estudos biológicos, o autor desenvolveu a tese, depois muito difundida, de que o ser humano seria um erro da evolução e, conseqüentemente, seria inviável enquanto projeto. A presença em nossa estrutura cerebral de vestígios do que ele denominou de cérebro réptil, seria a explicação para a agressividade humana e para os atos anti-sociais destrutivos. Enfim, em conseqüência deste erro evolutivo, o ser humano acabaria por destruir a si mesmo e ao planeta. Uma visão extremamente pessimista. Coincidência ou não, Koestler suicidou-se em 1983, juntamente com sua esposa.
Estávamos no início dos anos 70, e ainda ouvíamos os ecos das palavras de ordem dos anos 60: Paz e Amor; Faça amor e não a guerra; Liberdade; É proibido proibir. O projeto de um mundo mais livre, igualitário e pacífico começava a ficar mais distante. A Ciência ajudava a desqualificar os sonhos de amor e solidariedade, reduzindo-os a gritos infantis dos jovens hippies,
que também um dia envelheceriam e compreenderiam a terrível verdade: o homem seria o lobo do homem. Nesta época, li uma reportagem na revista americana Time, “A geração centrada em si mesma”, que já anunciava a chegada de uma geração individualista e competitiva que, nos anos 80 e 90, ficou conhecida como os yuppies, jovens profissionais urbanos buscando o sucesso a qualquer preço e adeptos de um consumismo desenfreado. Uma postura diante do mundo que
continua muito presente até hoje. Muitos nos perguntamos então: O sonho acabou?
Nesta mesma época, um cientista chileno, o biólogo Humberto Maturana, juntamente com um ex-aluno seu, Francisco Varela, davam forma a uma das mais revolucionárias teorias do século XX e do século emergente: A TEORIA DA AUTOPOIESE. Inicialmente interessados em estabelecer uma teoria que pudesse definir o que é um ser vivo, e também em estudos sobre a cognição, Maturana e Varela descobriram a relação intrínseca entre VIDA e CONHECIMENTO: Viver é conhecer, é relacionar-se, é estabelecer vínculos de cooperação. Vínculos amorosos!
Autopoiese significa gênese de si mesmo. Os dois cientistas demonstram que, em última instância, o que diferencia os seres vivos dos não vivos, é a organização autopoiética, ou seja, a capacidade de participar de sua própria criação. Em função da estrutura e da organização dos seres vivos, é impossível qualquer tipo de interação do tipo instrutiva , ou seja, é impossível que o meio ambiente ou um ser vivo unilateralmente, possa determinar o que acontecerá dentro do organismo de outro ser vivo. Somos todos, da bactéria ao homo sapiens, seres determinados estruturalmente. Só são possíveis relações que possibilitem um encaixe, um acoplamento estrutural. No entanto, esta estrutura não é fixa, estática; o ser vivo muda ao longo de sua vida, em conseqüência das relações , repetidas que mantém com outros seres vivos e com o meio ambiente. Portanto, a estrutura, que não é apenas orgânica, muda, mas permanece a organização.
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(*) Médico, psiquiatra, terapeuta sistêmico, diretor do Instituto de
Terapia de Família e Comunidade de Campinas. Fone (19) 3242-2823
e-mail: juares@scosta.med.br







Maturana e Varela retomam a teoria da evolução. Reafirmam o que Gregory Bateson já havia dito a respeito das idéias de Darwin e que, infelizmente foram tão mal compreendidas. A evolução propicia a sobrevivência do organismo em interação com o meio ambiente. Não é o mais forte (the strongest) que sobrevive, mas a unidade organismo e meio ambiente mais adaptados, mais encaixados( the fittest). Não há evolução ou sobrevivência de organismos isolados, mas apenas dos organismos em relação com o meio e vice-versa. Quando estas características estruturais modificadas permanecem ao longo de gerações de uma linhagem, temos, então, uma herança, um processo histórico. E não são apenas as características genético-cromossômicas que são passadas de geração a geração, mas também as formas de relacionar-se. Assim, da estrutura e organização dos seres vivos, fazem parte não apenas aspectos biológicos, mas também as formas de condutas, aqui entendidas como sendo as "mudanças de postura ou de posição de um ser vivo, que um observador descreve como sendo movimentos ou ações em relação a um ambiente determinado”. (1). Quando se dão acoplamentos estruturais recorrentes entre organismos que têm sistema nervoso, se dá um processo especial, que são os FENÔMENOS SOCIAIS. E por sociais entendam-se apenas as interações que se dão entre seres vivos, especialmente os humanos, aqueles em que se conserva uma emoção básica.
Maturana diz que tudo que fazemos, todas nossas condutas, mesmo aquelas que chamamos de racionais, dão-se sob o domínio básico de uma emoção, que ele denomina AMOR. Não o Amor místico, transcendental ou divino, e também não uma virtude especial de alguns poucos, mas uma Emoção, uma disposição corporal que nos possibilita algumas condutas e outras não e que funda o humano.
Ainda segundo Maturana, o Ser Humano surge quando se juntam uma série de características estruturais e organizacionais: o convívio em grupo, baseado na ajuda e proteção mútuas, o compartilhamento dos alimentos, o cuidado e proteção dos filhotes, e o prazer sensual e sexual da convivência entre machos e fêmeas, independentemente da reprodução. Todo este processo dá-se dentro da Linguagem. E Linguagem aqui significa muito mais do que o verbal.
Resumidamente, é disto que fala a BIOLOGIA DO AMAR. E aqui usamos o verbo Amar, ao invés do substantivo Amor, pois Amar pressupõe a ação de alguém. O Amor para Maturana é uma ação, uma atitude, onde o OUTRO É ACEITO COMO LEGÍTIMO OUTRO NA CONVIVÊNCIA. Nas palavras do próprio Maturana, temos: "O amor não é um fenômeno biológico eventual nem especial, é um fenômeno biológico cotidiano. Mais que isto, o amor é um fenômeno biológico tão básico e cotidiano no humano, que freqüentemente o negamos culturalmente, criando limites na legitimidade da convivência, em função de outras emoções. (...) A emoção que define o que chamamos de relações sociais é o amor, porque as ações que constituem o que chamamos de social são as de aceitação do outro como legítimo outro na convivência. (...) Nem todas as relações humanas são do mesmo tipo." (2) Relações que não se baseiam na aceitação do outro como legítimo outro, não são relações sociais. As relações de trabalho, por exemplo.
A esta altura, as tradicionais divisões e separações entre biológico e cultural, individual e social, emoção e razão, não fazem mais sentido.
Somos seres basicamente amorosos, em função de nossa organização e estrutura, mas vivemos em uma cultura patriarcal que nega nossos fundamentos amorosos, matriarcais.
Não nascemos sabendo fazer discriminações raciais, culturais ou de gênero. As crianças naturalmente se aceitam, independentemente de raça, classe social ou religião. Toda intolerância é conseqüência de um aprendizado cultural e social.
E quem diz isto agora é um BIÓLOGO, que nos mostra que o que já foi chamado de utopia é apenas uma coerência com nossa biologia: A BIOLOGIA DO AMAR.
Se aceitamos esta forma de ver o mundo e os seres vivos, se não negamos os fundamentos amorosos do humano, então vemo-nos obrigados a repensar todas nossas relações com outras pessoas, outros seres vivos e com nosso meio ambiente. Até nossas práticas profissionais precisam ser revistas. Em que emoção se baseiam?
Como ficam a Educação, as Psicologias e as Terapias, as Relações de Trabalho nas Empresas, as Questões Ambientais, as Práticas de Saúde? Vamos refletir sobre estas questões nos textos seguintes. Por enquanto, ficamos com as novas possibilidades que Maturana nos traz.
Muitos podem dizer que estas idéias constituem uma nova utopia. Pode ser que seja uma utopia, mas "com a vantagem que já nasce sem oposições (...) uma utopia que finalmente permite aos seres humanos se reencontrarem consigo próprios, reencontrando-se entre si". (3). E como disse um outro poeta, talvez sem saber que estava de acordo com as idéias de Maturana sobre a construção conjunta da realidade: "Sonho que se sonha junto, não é sonho, é realidade". (4)


REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1- Maturana e Varela, A Arvore do Conhecimento, ed. Palas Athena
2- Maturana, Emoções e linguagem em e educação e política, Ed. UFMG, 2002
3- Rabelo, A., prefácio de Emoções e linguagem...., Ed. UFMG, 2002
4- Raul Seixas

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Da série: Recortes da Diva

Tenho uma amiga que já não precisa mais pagar pelas passagens de ônibus, há um bom tempo. Entretanto, este não é o maior trunfo que a idade lhe deu. Ela, linda e vaidosa senhora, continua buscando, através de constante trabalho pessoal, aprimoramento do saber e do sentir. Pois bem; semanalmente, recebo dela recortes de jornal, criteriosamente escolhidos, – talvez para me ajudar a crescer, talvez pelo puro prazer de doar sua percepção de mundo, semeando ideias e ideais. Enfim, sua generosidade me encanta.

Entre o dito e o não dito
Regina Costa, Estado de Minas
As palavras surtem seus efeitos. Sempre provocam, causam reações, sejam elas quais forem. Sendo bem ditas curam, o contrário também vale. Causam impacto por serem portadoras de ideias, verdades, mentiras, por relatarem situações vividas. Também na fala podemos identificar significados não explícitos.
Nas entrelinhas escutamos o não dito, o sugerido, o escondido. É também um conteúdo que a própria pessoa fala, porém ignora. É interessante. Nem sempre este saber acompanhava a experiência. E este saber, a própria pessoa não reconhece senão a partir da palavra daquele que escuta. É um saber inconsciente. Está fora da consciência, mas é um saber.
Como se, estando enrolados em uma situação, encontrássemos a porta de saída a partir de uma ideia que se torna consciente. Uma lembrança encoberta que vem à tona. De repente produz um insight, como costumávamos chamar um estalo de entendimento, de descobrir uma lógica. Daí entendermos por que estávamos tão angustiados, tomados pela ansiedade, irritados sem saber por quê. E então podemos nos conduzir conforme decidirmos, a nosso modo.
Digam, leitores, se isso não ajuda a solucionar muitas passagens de nossa vida, as quais só podemos resolver caso tenhamos entendido não apenas o nosso lado como também as motivações e atitudes nem sempre declaradas, nossas e daqueles que nos cercam. Por isso não nos cansamos de nos surpreender com um saber que nós não sabíamos, mas possuímos, mesmo assim.
Este saber é muito interessante e importantíssimo. Algumas pessoas preferem chamar de intuição, revelação ou o que quer que seja. Eu e, ouso dizer, todo psicanalista preferimos acreditar no saber inconsciente. Não sabemos só o que pensamos, o que é consciente. Nosso saber vai além, muito além. A análise nos conduz a saber um pouco sobre este saber oculto ou sob recalcamento (no esquecido).
Os sonhos mostram isto frequentemente. As piadas também. Elas dao recados do não dito que sai de nossa boca, e de repente todo mundo ri à beça. Porque todos entenderam a alusão e foram atingidos no ponto, sem pensar. Tocados como dizem os esgrimistas quando são atingidos pala espada do parceiro: touché!
Uma piada: dois portugueses foram jogar tênis e voltaram descalços. Decerto ela é corriqueira e preconceituosa, até mentirosa; deixaram prova disso muitos portugueses geniais: José Saramago, Fernando pessoa, Luís de Camões e, ainda vivo, Boaventura de Souza Santos. Há muitos outros portugueses.
A piada, no entanto, nos arranca risadas sem passar pelo pensamento, pois ela revela muito mais do que diz. Ela revela nosso ressentimento por nossos colonizadores e nossa crítica a eles, pois, tendo se apropriado de nossas riquezas naturais – ouro, diamantes, pedras preciosas – , eles perderam tudo. Além disso, impediram durante longos anos a alfabetização, o esclarecimento e o progresso dos colonizados.
Sejamos justos e não nos esqueçamos que também foram inteligentes. Napoleão Bonaparte declarou ser dom João VI o único monarca a enganá-lo para não ser destronado, fugiu da invasão napoleônica às pressas para o Brasil. Sobre esta esperteza, por nós herdada, podemos falar outro dia...

domingo, 12 de junho de 2011

Reproduzo o texto de Araxá, por admiração e respeito. Parabéns!

quinta-feira, 28 de abril de 2011
CAPS: o que é isso?

A psicose não é defeito/déficit na racionalidade. Ela é desrazão, nem menos, nem mais, é uma outra forma de funcionamento, assim, como o mítico e o poético.
Bichuetti


Atualmente, fala-se muito em todo o país sobre a Luta Antimanicomial, mas desinstitucionalizar a loucura não é um processo apenas técnico, jurídico, legislativo ou político.
A Reforma Psiquiátrica é muito mais do que derrubar os muros e grades dos manicômios, desativar celas fortes, proibir eletrochoque, “sossega-leão” ou camisa de força. Primeiro, é preciso quebrar dentro das pessoas o preconceito de que o “louco” é perigoso, inválido, improdutivo e irresponsável. Mesmo porque, a agressividade que ele, por vezes apresenta nas crises, ocorre muito mais por inabilidade ou violência dos familiares ou falta de capacitação do profissional de saúde.
A desinstitucionalização da loucura não ocorre por decreto, portaria ou lei. Ela se dá no cotidiano, e a efetividade das transformações só será possível quando toda a sociedade assumir o desafio de conviver com a diferença e aceitar a diversidade.
Dentro dessa lógica, surge o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) um serviço público de saúde mental que visa prestar atendimento às pessoas com sofrimentos psíquicos graves e persistentes, diminuindo e evitando internações psiquiátricas. Os usuários voltam para casa todos os dias, sem a quebra dos laços familiares e sociais, fator muito comum em internações de longa duração.
A clínica antimanicomial busca amenizar e cuidar da crise aguda sim, para que as pessoas possam recuperar a autonomia e se inserir nas atividades cotidianas. Assegura a monitoração apropriada da medicação, oferece assistência social, apoio familiar, espaço para a elaboração psicológica (psicoterapia), a terapia de grupo e oficinas terapêuticas (trabalhos manuais, culinária, esportes, música, poesia, tecelagem costura etc.). Assim, a crise não é vista como um transtorno ou um incômodo e o CAPS oferece um território continente e acolhedor marcado pela maternagem e a reconstrução do convívio social.
No CAPS, todas as práticas são integradas desenhando um projeto terapêutico individualizado para cada paciente e não, um tratamento padronizado. Todos os profissionais que lá trabalham têm que ter um objetivo comum: a valorização do paciente psiquiátrico e sua possibilidade de reprodução social.
É essencial que haja supervisão externa e formação permanente dos profissionais, para que não se tornem meros “consertadores” em saúde mental.
É preciso cuidar para que as práticas dos profissionais de saúde mental do CAPS não se reduzam à divisão de tarefas, cada especialista desempenhando sua função isoladamente. Esse funcionamento pode reforçar o sofrimento dos usuários em doença mental.
Segundo a Linha Guia de Saúde Mental do Ministério da Saúde:

Não se pode definir uma equipe como um aglomerado de trabalhadores, na qual cada um deles exerce apenas a sua função profissional específica. As identidades profissionais não podem servir de pretexto para o apego burocrático a uma função. Se é verdade que compete ao médico prescrever, o que o impede de levar os usuários a um passeio? Se a psicóloga deve responder por atendimentos individuais, por que não pode coordenar uma oficina? Se for atribuição da enfermeira supervisionar o trabalho dos auxiliares de enfermagem, por que não pode escutar e acompanhar seus pacientes? Se o porteiro deve zelar pelos que entram e saem, não lhe cabe também fazer companhia a quem fica? Também não podemos entender as equipes apenas como uma forma de dividir o trabalho, em que cada um faz “a sua parte”, sem necessitar preocupar-se com o produto total. Uma equipe de Saúde deve compor-se de profissionais de formações diferentes, assegurando assim a diversidade de suas funções e a troca de suas experiências. Naturalmente, as especificidades das diferentes profissões devem ser respeitadas.

Para Bichuetti (2010)
O CAPS não funciona numa perspectiva manicomial. Se assim o for, pode ser um ambulatório ou algo similar, não um CAPS. O manicômio é mais que um lugar de portas fechadas. É a especialização, a segmentação, as divisões que limitam a comunicação e influenciam no viver da clínica. Para Rotelli, é o lugar de troca zero. Estamos inventando um “entre” para o diálogo? O saber de alguém anula o desejo do outro? Porque podemos estar fragilizando as trocas e reinstituindo o manicômio. (...) No antimanicomial, a circulação é importante. É proibido entrar na cozinha, mas em casa entramos, temos acesso livre. Não tem como trabalhar sem maternagem no CAPS, não há CAPS sem festa: o CAPS não pode se converter num aparato cinzento de intervenções anêmicas e de silêncio normatizador.

O CAPS trabalha bastante articulado com a rede de serviços da região, pois tem a função de dar suporte e supervisão à rede básica também, além de envolver-se em ações intersetoriais – com a educação, trabalho, esporte, cultura, lazer etc. – na busca de reinserção dos seus membros em todas as áreas da vida cotidiana. As intervenções terapêuticas no espaço extra institucional são muito importantes. A ação terapêutica pode se dar durante os passeios, viagens, excursões, no clube, no cinema, na piscina, no campo, na cachoeira, nas bibliotecas, no restaurante, no bosque, no shopping, nos museus e em todos os espaços onde os sujeitos possam exprimir e exercitar sua subjetividade.
Existem algumas modalidades de CAPS, de acordo com as diferentes necessidades de cada território: CAPS I – para municípios com populações entre 20.000 e 70.000 habitantes, CAPS II – para populações entre 70.000 e 200.000 habitantes, CAPS III - acima de 200.000 habitantes (esse é o único que funciona 24 horas, incluindo feriados e fins de semana). CAPSi – atende crianças e adolescentes (até 17 anos de idade), e CAPSad – atende, especificamente, usuários de álcool e outras drogas cujo uso é secundário ao transtorno mental clínico.
Enfim, aquele que procura esse serviço de saúde mental não é um doente, mas uma pessoa em desequilíbrio, uma subjetividade, uma singularidade. A tarefa da equipe é facilitar o seu processo de descoberta de um modo menos doloroso de autoexpressão para ele e sua família, acompanhando a transformação de sua vida concreta e cotidiana, que alimenta o sofrimento.
A nova clínica antimanicomial acolhe os sujeitos e não somente a patologia, e é realizado “um trabalho de colagem dos pedacinhos. Remontagem de sentido e de valor. A busca meticulosa do tesouro contido na desordem, no caos” (MELMAN, 1999).
Conclamo o envolvimento de toda a sociedade e o apoio político e operacional dos governantes para que o CAPS de Araxá seja credenciado pelo Ministério da Saúde.

Angela Maria Amâncio de Ávila - Psicóloga- CRP-04/2683
Postado por Camila Bahia Leite às 23:01