quinta-feira, 10 de maio de 2012

Aos amigos da Aldeia: Depois de um longo período ausente, o nosso blog vai ser reativado! Aguardem as novidades!

sábado, 8 de outubro de 2011

Divulgando a pedido do Lincoln, lá de Tocantins.

SOBRE A AÇÃO CIVIL DE OBRIGAR O ESTADO DO TOCANTINS A
INTERNAR DEPENDENTES QUÍMICOS ( jornal do Tocantins 07/10/2011)
Eu entendo a seriedade com que o Ministério público, a Defensoria e a OAB se movimentaram para que uma ação civil, obrigando o Estado a internar dependentes químicos, viesse à tona. Entretanto, trata-se de uma
atitude desesperada e até ingênua, isso é importante que se diga.
Desesperada, pois há muito se sabe que a internação, além de ser apenas uma etapa do tratamento, em lugar algum do mundo traz estatísticas animadoras no que se refere a recuperação do dependente, se vista de forma isolada.
Importante dizer também que ela é consequência de uma total desarticulação e falta de diálogo entre os segmentos da máquina pública, pois sabemos que a única forma de um combate mais efetivo ao problema
das drogas é realizada através de ações conjuntas entre os diversos órgãos: Segurança Pública, Saúde, Cidadania e Justiça, Educação, Trabalho, Assistência Social, etc.
O que acontece, entretanto, é que com a ação pública em questão corre-se o risco de priorizar uma forma de tratamento que tem indicações técnicas específicas e que não atinge a necessidade de grande parte dos
usuários, além de onerar tanto o estado que tornará o problema ainda mais agravado. Sinto profundamente pela falta de memória que temos enquanto cidadãos, uma espécie de amnésia histórica, tipicamente brasileira, pois há pouco mais de vinte anos esse era exatamente o modelo de tratamento mais usado para dependentes de álcool, cocaína e maconha, entre outras drogas, mas que não deu certo. Internava-se com a máxima facilidade e simplesmente nunca houve resolutividade, já que após 6 ou 9 meses internado, logo ao sair da clínica, lá estava o usuário se drogando de novo, perpetuando um ciclo de recaídas. Tratar da dependência de drogas sem uma rede constituída que trabalhe globalmente, inclusive com a família e a comunidade, é perda de tempo e de dinheiro público.
E isso por quê? Porque o problema das drogas é multifatorial e depende de inúmeras ações conjugadas que vão muito além de uma internação. Se antes não havia políticas específicas, hoje, o que não existe é o cumprimento delas. Atualmente contamos com uma ampla gama de portarias e projetos, temos verbas e incentivos variados, mas incrivelmente, ainda assim, agimos como desesperados correndo de um lado a outro sem nos comunicarmos adequadamente, trazendo o risco de reproduzirmos a mesma coisa que no passado já foi feita e não trouxe resolutividade.
É importante que se considere a internação, como disse, parte do tratamento e não o foco principal. Nesse sentido, medidas como essa da ação pública do MPE do Tocantins e como aquela do Rio de janeiro (de
retirar à força os menores das ruas) são infantilizadas e demonstram a ingenuidade que citei. Falo infantilizadas porque é assim que uma criança faz quando não quer que um problema exista, isto, é, põe suas mãos sobre os olhos e simplesmente não vê mais o que está à sua frente. Não vendo, passa a crer que o problema também desapareceu. Estamos prestes a fazer a mesma coisa. Tirar o dependente químico de circulação causa uma falsa sensação de alívio à sociedade, pois parece que algo eficaz está sendo feito. Todavia, sem uma rede de ações estruturadas, nada de eficaz está sendo feito, salvo protelando para um futuro próximo o mesmo problema.
Pois bem então, e daí? O que efetivamente pode ser feito? Talvez a primeira coisa realmente efetiva a ser feita é o Ministério Público, a OAB, a Defensoria Pública ou o Judiciário, ao invés de obrigarem a internação de dependentes químicos, cobrarem, através de medidas legais, que os dirigentes do executivo (nas esferas estadual e municipal), cumpram portarias, leis e resoluções já existentes.
Que esses dirigentes, para isso, convoquem seus técnicos, secretários, diretores, superintendentes, a criarem grupos intersetoriais com poderes deliberativos para pensarem, discutirem e executarem ações interligadas, fazendo com sejam realmente cumpridas.
Cito aqui o exemplo de algumas dessas ações já previstas e priorizadas pela política nacional do Ministério da Saúde: ampliar os leitos de retaguarda para desintoxicação nos hospitais gerais (e alguns em clínicas
especializadas para os casos indicados), implantar CAPs-ad III em cidades estratégicas (são serviços que internam usuários por vários dias), implantar as casas de acolhimento transitório (CATS) para moradores em situação de rua, incentivar as políticas de redução de danos, consultórios de rua e aquelas geradoras de renda (economia solidária), mapear a cidade, entendendo a dinâmica de fluxo que a droga tem naquela comunidade, investir na capacitação permanente dos profissionais da rede pública, fortalecer a repressão (diminuição da oferta), fortalecer políticas de prevenção através dos meios de comunicação, etc. Isso é eficaz e já existe, por que não se cumpre?
Curiosamente não são medidas de grande complexidade, dependem sim de vontade política e compromisso social, pois além de haver verbas federais destinadas a diversos programas, já há lugares que se utilizam
amplamente de uma rede pública que dialoga entre si (o estado de Sergipe, as capitais Recife e Belo Horizonte, entre outros), sendo inclusive uma das pautas principais da meta de governo da nova presidente, o combate efetivo às drogas através de medidas intersetoriais.
O problema parece estar em desfazer uma espécie de Torre de Babel, onde ninguém entende ninguém e cada segmento tenta idealizar de forma individualizada ‘feitos espetaculares’, ‘programas salvadores’ isolados e fragmentados que, assim como essa ação civil, mesmo estando apoiada na legitimidade de órgãos sérios e competentes como o Ministério Público, Defensoria e a OAB, longe de resolver o problema, só irá criar outro ainda maior à medida que estourar os cofres públicos e se mostrar ineficaz (uma vez mais na História).
Que ao menos essa ação pública sirva para demonstrar sua própria ineficácia e a incrível falta de comunicação que todos temos tido, estimulando, mesmo que de forma compulsória, o enfraquecimento de
ideologias sectárias, (boa parte delas com interesses mercadológicos e que dominam secularmente a saúde mental), promovendo então, quem sabe, uma interlocução efetiva entre os diversos segmentos sociais.
O momento é grave e operacional, não ideológico, momento de unirmos forças com toda a sociedade, esquecendo inclusive divergências ideológicas, sejam elas científicas religiosas ou filosóficas. Que cada uma
contribua com sua parte, suas idéias, reconheça seu lugar, mas não aja mais isoladamente como se detivesse a posse de alguma verdade. Juntos, ainda somos poucos para enfrentar essa dramática situação, porém,
isoladamente somos verdadeiramente nada.
Lincoln J.C. Almeida
Médico psiquiatra e diretor técnico do CAPS-ad/Palmas

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Copiado do FB do Bill:

Não sei como dizer-te que minha voz te procura
e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
esplêndida e vasta.
Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos
se enchem de um brilho precioso
e estremeces como um pensamento chegado. Quando,
iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima

- eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.

[...]

- não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.
Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço
- e penso que vou dizer algo cheio de razão,

mas quando a sombra cai da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me faltam
um girassol, uma pedra, uma ave - qualquer
coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,
o amor,

que te procuram.

{ Herberto Helder }

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Só antecipando a festa:
Às nossas companheiras da Aldeia,
Desejamos sucesso no concurso, domingo, para continuarmos unidos na construção da Saúde Mental de Pouso Alegre!
Um forte abraço de todos nós,
UBUNTU! \O/

segunda-feira, 18 de julho de 2011

COMPARTILHANDO DO BLOG TERAPIA OCUPACIONAL, DA ÉRIMA DE ANDRADE

domingo, 17 de julho de 2011
Por que fazer terapia?
O que leva alguém a buscar uma terapia, ou qualquer outro trabalho de autoconhecimento?

Todos buscam a mesma coisa, mesmo que não tenham clareza da resposta: independência emocional. Buscam uma maneira de pensar sobre a própria vida e de compreender seus processos internos para conquistarem a independência emocional. Buscam ser mais felizes.

Mas um terapeuta não tem as respostas. Todas as respostas são internas e pessoais. Hermann Hesse define muito bem essa impossibilidade de receber respostas do outro:

"Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo".

Fátima A. Bittencourt explica assim por que conhecer a si mesmo:

“Por mais que pareça que os outros escolhem nossos caminhos, sempre tem uma permissão nossa para isso acontecer. Se não existe uma satisfação para onde estes caminhos estão levando é hora de repensar os erros que se repetem e as virtudes que não estão sendo praticadas.

Chamamos esse novo caminhar de autoconhecimento. Esse é o chão que sustenta o caminho escolhido e a base da própria vida. A sabedoria é o que praticamos com o autoconhecimento que adquirimos, e ela é que abre os caminhos para que possamos ser felizes.”

Mas os caminhos só se abrem quando temos a coragem, e ousadia, de viver no momento presente. Segundo Schopenhauer a consequência da fuga do presente é a insatisfação eterna dos que não valorizam o que possuem, desejando sempre coisas distantes. Quando conseguem o que querem, essas pessoas passam imediatamente a desejar outras coisas ainda mais difíceis.

Heloisa Capelas completa: “Outra consequência da fuga do presente é a incapacidade de tomar decisões no momento certo. As pessoas esquecem do que está acontecendo nesse exato momento, só valorizam algo depois que o perdem. Quem só pensa no futuro desaprende a interagir com as coisas que estão diante de seus olhos.”

Solidez é o que conquistamos vivendo o momento presente. Segundo Thich Nhat Hanh:

“Solidez torna possível a nossa felicidade. Alguém que não é estável, alguém que não é sólido não pode ser uma pessoa feliz. Quando você é sólido, as pessoas podem confiar em você. Quando seu amado é sólido, você pode confiar nele. Portanto solidez é algo que você pode oferecer à pessoa que ama, como o frescor.”

Como terapeutas, ou professores de autoconhecimento, podemos oferecer a solidez, podemos ajudar a tornar visível o que esta inconsciente, ajudar a repensar os erros que se repetem, a lembrar o que estão vivendo nesse exato momento, podemos oferecer nossa disponibilidade para ajudar, para ampliar seu campo de visão. Como diz Arthur Schopenhauer: “Todo o homem toma os limites de seu próprio campo de visão como os limites do mundo.” E algumas vezes esse mundo fica muito pequeno e sem graça.

Podemos sim estar perto, mas não podemos resolver. Explica Peter Pál Pelbart:

“Mas os anjos não são deuses. Eles não podem tudo (...)

Os anjos não podem mudar a face do planeta nem dirigir o curso do mundo. No máximo podem tornar mais leve o fardo de uma ou outra vida, de um ou outro momento de uma vida ou outra.

Um pouco como um terapeuta: essa disponibilidade para ouvir, para tocar, essa presença discreta que pode às vezes suscitar um novo começo – mas também essa impotência para determinar, para resolver, para viver no lugar de.”

O caminho é só seu, mas conte sempre com a nossa ajuda. Por mais difícil que seja acreditar, toda noite escura tem um fim brilhante. Regina Saraceni explica:

“É assim mesmo... antes do amanhecer... a escuridão é grande, mas chegam os raios de luz, trazendo vida para nossos corações. Existe até uma meditação assim, você se levanta antes do Sol nascer, se posiciona em direção ao nascimento dele, senta-se confortavelmente e respira calma e profundamente, prestando atenção na sua respiração. E observa... num momento a luz se faz.”

Não é mágico, algumas vezes não é rápido, mas sempre vale à pena.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Lançamento do livro do Aidê: uma honra pra Aldeia!

No dia 15/7, sexta-feira, às 10 horas, o Aidê estará em Pouso Alegre, no CAPS, para lançar seu livro:
"Lendas no cotodiano humano do bicho de sete cabeças",
quando conversará informalmente com quem aparecer por lá!

O endereço é Rua Anísio de Paiva, 132 - Nova Pouso Alegre (pertinho da Av Vicente Simões).

Vai lá!

domingo, 10 de julho de 2011

UBUNTU: “Sou quem sou, porque somos todos nós”

UBUNTU
Giuliana Capello, blog Gaiatos e Gaianos

Não, não, este post não vai tratar de software livre. O tema da vez é o Ubuntu nascido na África, gerações e gerações antes de nós, como uma filosofia ou um conjunto de valores éticos que não cabe numa única definição – porque é mais fácil entender com o coração e não como um apanhado de palavras bem articuladas.

Dia desses recebi um email que despertou minha curiosidade em saber um pouquinho mais sobre essa história de nome engraçado. A mensagem relatava uma brincadeira que teria sido promovida por um antropólogo durante suas pesquisas numa tribo africana. Diz a história que ele havia deixado debaixo de uma árvore um bonito cesto de doces comprados na cidade. Então, ele chamou as crianças e propôs uma corrida até as guloseimas. Quem chegasse primeiro ficaria com o prêmio. Mas, para sua surpresa, quando ele disse “já!”, todas as crianças se deram as mãos e saíram correndo em direção à arvore dos doces. Quando chegaram lá, começaram a distribuir os doces entre si e a comerem, felizes. O antropólogo, então, perguntou por que elas tinham ido todas juntas se uma só poderia ter ficado com tudo e, assim, comeria muito mais doces. E as crianças simplesmente responderam: “Ubuntu, tio. Como uma de nós poderia ficar feliz se todas as outras estivessem tristes?”
Entendeu o que é Ubuntu? Talvez você, tanto quanto eu, ainda tenha dúvidas e fique inseguro ao tentar explicar a alguém o que é, afinal, Ubuntu. Apesar disso, o espírito dessa prática filosófica, digo por mim, tocou-me profundamente. Ubuntu significa: “Sou quem sou, porque somos todos nós”. É bonito, não?
Ubuntu fala sobre a noção de comunidade que, infelizmente, muitos de nós perdemos pelo caminho, em algum momento. É aquele sentimento de solidariedade, gentileza, respeito, tolerância e pertencimento que faz das relações, atitudes e comportamentos humanos experiências ricas, únicas, transcendentais.
Para o arcebispo Desmond Tutu, prêmio Nobel da Paz, Ubuntu é um dos presentes da África ao resto do mundo. Envolve hospitalidade, cuidado com os outros, ser capaz de dar um passo a mais pelo bem dos outros. “Acreditamos que uma pessoa é uma pessoa através de outras pessoas, que minha humanidade está vinculada indissoluvelmente à sua. Quando desumanizo você, inexoravelmente me desumanizo. O ser humano solitário é uma contradição em termos, portanto, trabalhe para o bem comum porque sua humanidade vem de sua própria pertença”, diz ele.
Quando penso agora na minha comunidade na ecovila Clareando, sinto-me renovada ao sentir o quanto sou mais feliz hoje por fazer parte dela e ser capaz de entender com todos os meus sentidos o que é essa tal qualidade de pertença ou pertencimento, de sentir-se parte de algo, sempre junto com outras pessoas. Para mim, o que falta à humanidade hoje para atravessarmos as crises socioambientais é justamente essa palavrinha: Ubuntu. É claro que não sou a única a pensar assim, não estou sendo muito original, na verdade. Várias lideranças mundiais já se referiram ao conceito de Ubuntu para falar das carências de um conjunto de qualidades humanas deixadas para trás, tão equivocadamente. Bill Clinton já discursou sobre Ubuntu, assim como Nelson Mandela. Em poucas palavras, Ubuntu conecta os seres humanos, destrói a indiferença diante da dor do outro, incorpora a troca de sorrisos com o vizinho como um indicador de bem-estar, saúde e qualidade de vida.
E tenha certeza: a solidão que muitas pessoas sentem como uma angústia profunda é falta de Ubuntu, desse algo que nos acolhe como uma lareira em dias frios. Nas palavras usadas pela Fundação Tutu na Inglaterra (vale a pena visitar o site e ler mais sobre o assunto), nós apenas podemos ser humanos quando estamos juntos. Esse é o único jeito.


Fonte da foto: dignow.org

UBUNTU PRA VOCÊS!

UBUNTU
Giuliana Capello, blog Gaiatos e Gaianos

Não, não, este post não vai tratar de software livre. O tema da vez é o Ubuntu nascido na África, gerações e gerações antes de nós, como uma filosofia ou um conjunto de valores éticos que não cabe numa única definição – porque é mais fácil entender com o coração e não como um apanhado de palavras bem articuladas.

Dia desses recebi um email que despertou minha curiosidade em saber um pouquinho mais sobre essa história de nome engraçado. A mensagem relatava uma brincadeira que teria sido promovida por um antropólogo durante suas pesquisas numa tribo africana. Diz a história que ele havia deixado debaixo de uma árvore um bonito cesto de doces comprados na cidade. Então, ele chamou as crianças e propôs uma corrida até as guloseimas. Quem chegasse primeiro ficaria com o prêmio. Mas, para sua surpresa, quando ele disse “já!”, todas as crianças se deram as mãos e saíram correndo em direção à arvore dos doces. Quando chegaram lá, começaram a distribuir os doces entre si e a comerem, felizes. O antropólogo, então, perguntou por que elas tinham ido todas juntas se uma só poderia ter ficado com tudo e, assim, comeria muito mais doces. E as crianças simplesmente responderam: “Ubuntu, tio. Como uma de nós poderia ficar feliz se todas as outras estivessem tristes?”
Entendeu o que é Ubuntu? Talvez você, tanto quanto eu, ainda tenha dúvidas e fique inseguro ao tentar explicar a alguém o que é, afinal, Ubuntu. Apesar disso, o espírito dessa prática filosófica, digo por mim, tocou-me profundamente. Ubuntu significa: “Sou quem sou, porque somos todos nós”. É bonito, não?
Ubuntu fala sobre a noção de comunidade que, infelizmente, muitos de nós perdemos pelo caminho, em algum momento. É aquele sentimento de solidariedade, gentileza, respeito, tolerância e pertencimento que faz das relações, atitudes e comportamentos humanos experiências ricas, únicas, transcendentais.
Para o arcebispo Desmond Tutu, prêmio Nobel da Paz, Ubuntu é um dos presentes da África ao resto do mundo. Envolve hospitalidade, cuidado com os outros, ser capaz de dar um passo a mais pelo bem dos outros. “Acreditamos que uma pessoa é uma pessoa através de outras pessoas, que minha humanidade está vinculada indissoluvelmente à sua. Quando desumanizo você, inexoravelmente me desumanizo. O ser humano solitário é uma contradição em termos, portanto, trabalhe para o bem comum porque sua humanidade vem de sua própria pertença”, diz ele.
Quando penso agora na minha comunidade na ecovila Clareando, sinto-me renovada ao sentir o quanto sou mais feliz hoje por fazer parte dela e ser capaz de entender com todos os meus sentidos o que é essa tal qualidade de pertença ou pertencimento, de sentir-se parte de algo, sempre junto com outras pessoas. Para mim, o que falta à humanidade hoje para atravessarmos as crises socioambientais é justamente essa palavrinha: Ubuntu. É claro que não sou a única a pensar assim, não estou sendo muito original, na verdade. Várias lideranças mundiais já se referiram ao conceito de Ubuntu para falar das carências de um conjunto de qualidades humanas deixadas para trás, tão equivocadamente. Bill Clinton já discursou sobre Ubuntu, assim como Nelson Mandela. Em poucas palavras, Ubuntu conecta os seres humanos, destrói a indiferença diante da dor do outro, incorpora a troca de sorrisos com o vizinho como um indicador de bem-estar, saúde e qualidade de vida.
E tenha certeza: a solidão que muitas pessoas sentem como uma angústia profunda é falta de Ubuntu, desse algo que nos acolhe como uma lareira em dias frios. Nas palavras usadas pela Fundação Tutu na Inglaterra (vale a pena visitar o site e ler mais sobre o assunto), nós apenas podemos ser humanos quando estamos juntos. Esse é o único jeito.

Foto retirada do carlitolimablog.blospot.com